Keke Kerubina Rosa Vermelha do Jardim da Vida
RAQUEL FRANCO DE ALMEIDA
Keke Kerubina
Raquel sempre foi apaixonada pelo mundo minúsculo de
formigas, bichinhos e buraquinhos em paredes. Sua infância foi vivida no
Maranhão, na Ilha de São Luís. Seus pais não puderam lhe criar, então ela foi
acolhida e cuidada pelos avós. Foi a imaginação e mundo pessoal que ela criava
que a ajudaram a compreender aquela condição de não estar com seus pais. Ela
liderava as brincadeiras entre os primos, irmãos e primas, que moravam na casa
da avó, criava jogos diferenciados, e talvez ali já surgia um sinal de que ela
tinha uma semente dentro dela, a vontade do lúdico, do jogo, de inventar
mundos.
Na infância, também sempre teve
experiências com o sagrado, e a espiritualidade sempre lhe beliscavam aqui e
ali. Muitas vezes, a avó lhe levava para receber “passes”, assim como vivenciou
por muito tempo rituais na casa da avó. Isso conectou sua palhaçaria à
ancestralidade, ao riso profano e sagrado, ao riso como comunhão, rito e festa.
Aos 14 anos, Raquel conheceu o
Teatro e ficou completamente apaixonada por ele, no teatro amador fez de tudo
um pouco, mas a família não aceitava e ela foi quase proibida de fazer teatro,
a não ser que passasse no vestibular. E Raquel passou no curso de História,
então pode ingressar na escola de Teatro.
No prédio que funcionava a escola,
na parte de baixo funcionava a sede da Cia Circense de Teatro e Bonecos. Um
dia, Raquel foi visitá-los e que sonho foi entrar naquele lugar, bonecos,
máscaras, perna de pau, palhaços, músicos, simplesmente se encantou por aquele
lugar, assim como se apaixonou por um dos palhaços do grupo. Ela largou a
escola e se dedicou ao aprendizado na Cia. Lá aprendeu na prática cotidiana a
arte da palhaçaria, que tinha muita influência dos palhaços de circo. A família
dela continuou não aceitando e foi necessário ela fugir de casa. Fugiu com 18
anos para o Rio de Janeiro para estudar circo.
Ao voltar para São Luís, ela retomou
os trabalhos na Cia, e sua principal mestra foi Sandra Cordeiro, que lhe
apresentou os grandes palhaços, liam, estudavam, montavam trabalhos juntos.
A experiência na Cia Circense foi
maravilhosa, lá Raquel aprendia na prática acertando e errando, maquiavam e iam
descobrindo os detalhes no dia a dia, colocavam o nariz, a roupa, fabricavam
seus próprios sapatos, e iam para a cena. Essa história que muita gente fala,
de picadeiro e iniciação, Raquel viveu na “marra” mesmo, botando a cara na roda
e olhando o público olho no olho.
Mas Raquel passou por um período de
conflito, indo para o sudeste e também conhecendo outros palhaços e palhaças,
ela percebeu que o processo dela era bem diferente e particular de ser palhaço,
era a época que bombavam os tais retiros e iniciação, e isso lhe perturbava. Ela se questionava sobre a sua
palhaçaria, pois não se encaixava naquela difundida largamente no sul e
sudeste, mas também não era de lona.
Lendo, estudando e observando foi se
consolidando cada vez mais para ela a experiência de uma palhaçaria
popular com raízes brincantes e
ancestrais no sentido sagrado.
Keke Kerubina Rosa Vermelha do
Jardim da Vida, sua palhaça, foi criada bem soltinha voando por toda a campina,
vivendo de ser brincante, circense e bailarina. Ela foi se fortalecendo na
corporeidade e na vida de Raquel, não sendo somente um ser palhaça, mas um ser
atriz também, que lhe indagava o que ela queria dizer para mundo, onde e o que
ela queria semear com sua arte?
A palhaça, para além do
palhaço, possibilita a transformação do
riso na contemporaneidade, o riso até então masculino se volta para suas origens
ancestrais, alargando-se para o riso feminino da palhaça. Portanto ser palhaça
é pós-moderno e ancestral ao mesmo tempo, pois projeta um futuro, sendo a
mulher o sujeito que guarda e expele a vida, é um riso fértil.
Ser palhaça para Raquel é fazer cócegas
no mundo, abrir o sorriso da terra, massagear a humanidade.
Esta história faz parte do livro "Somos Palhaças" de Michelle Silveira da Silva, lançado em 2022.
Raquel Franco, nossa Keke Kerubina, a maior Rosa Vermelha do Jardim da Vida. Keke arte, kerubina inspiração! Axé!
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