As vantagens de ser uma palhaça (Lendo as Palhaças do Brasil)
Ser palhaça é muito mais vantajoso do que ser palhaço.
Somos obrigadas a ser infinitamente criativas, ousadas e
inteligentes, o tempo todo. Pois é, nós precisamos ser geniais e impecáveis até
na linguagem que pauta o erro.
Ser palhaça é mais vantajoso porque você tem muito mais
interrupções para lidar enquanto estiver tentando fazer o seu trabalho: haverá
sempre um homem para te interromper, puxar o instrumento da sua mão ou te tocar
de forma inadequada. A gente aprende a ter mais jogo de cintura e a subverter o
“insubvertível”.
Outra vantagem é que - palhaços ou não - sempre vão tentar
entrar no velho jogo de te paquerar, para que você não deixe de ser
objetificada mesmo com uma máscara.
Ser palhaça é vantajoso demais. As pessoas se preocupam
muito mais com uma palhaça do que com um palhaço: se preocupam se você está
gorda demais, se emagreceu demais, “se o cabelo tá assim, se tá assado”, se
está solteira, se está casada, se tem filho, se ainda não tem, se a roupa está
amassada, se você cozinha, se você passa, se você serve pra alguma coisa além
de ser palhaça, se é que serve para ser palhaça.
Ser palhaça é muito mais vantajoso do que ser palhaço
porque nós já éramos uma piada antes da máscara. Ser palhaça é muito mais
vantajoso do que ser palhaço porque ninguém nos deixará esquecer que somos, na
verdade, só uma mulher.
No entanto, ainda que me lembrem, ainda que se tenha uma
tentativa de sobrevivência angustiada de me puxar para uma realidade
insuportável, essa máscara, tal qual qualquer outra máscara, me permite sempre
ir além.
Como um bobo da corte levando mensagens aos reis, os
ataques viram uma denúncia e um anúncio: isso não é legal, mas isso aqui sim é
legal, veja!
Não sei se levam para a vida esse outro modo de existir que
eu apresento, afinal ninguém leva a sério uma louca. Mas
ninguém esquece uma louca. E como um martelinho esquisito batendo na cabeça, sigo na
tentativa de combater a realidade com o absurdo. Espero que um dia a loucura
vença, porque a sanidade ainda há de matar a todos nós.
Autora:
Vitória Carine da Silva - Palhaça Alavanka – Barretos/SP
Currículo: Vitoria
Carine é palhaça, pesquisadora e professora. Graduada em Lic. em Arte-Teatro
pela UNESP, Mestranda pela USP, se formou pelo Programa Para Jovens Palhaços
dos Doutores da Alegria e iniciou sua trajetória na rua, onde permaneceu até
2022, quando começa atuar em hospitais pelo Instituto SocioCultural de
Barretos. Ministra oficinas de palhaçaria desde 2016. Hoje pesquisa a função social da palhaçaria.
Nas redes sociais: @dalavanka.
Fotos: Ana
Clara Tesoura Fotografia
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