Cinco Lições de Vida - Ser Palhaça e as muitas eus dentro de mim (Lendo as Palhaças do Brasil)

A Palhaça Espoponja me proporcionou, no decorrer de minha vida pessoal e artística, inúmeros aprendizados. 

Vou destacar Cinco Lições de Vida que um nariz vermelho ensinou para mim:

 

1.        Viver a vida. A vida passa rápido demais para não se viver intensamente. Pode parecer clichê, mas quando eu me dei conta já estava com mais de cinquenta anos e, ao olhar para trás, percebi que muitos sonhos e desejos não haviam se realizado; mas o que passou não volta. Quando eu coloco o nariz vermelho, não há tempo para pensar no que poderia ter sido, há o aqui e agora, um picadeiro que mostra tudo que ainda tenho por realizar. Aprendi que sempre é tempo de viver e fazer o que se deseja.

2.        Todo mundo é bonito e ridículo ao mesmo tempo. Eu gostaria de ter controle sobre tudo que acontece em meu cotidiano, tudo sempre certinho, todas as coisas em seus lugares, mas a realidade é cheia de imprevistos e surpresas boas e não tão boas. Eu sempre fui uma criança e uma adulta um pouco atrapalhada, com dificuldade de abrir embalagens, perdendo o embarque do avião, me ajoelhando em cima do bolo de aniversário, apertando botões que eu não devia. Aprendi a gostar do meu jeito meio estrambólico e a reconhecer uma boniteza no meu jeito engraçado de resolver os desafios do cotidiano.

3.        A alegria é um estado de contentamento. A alegria é um sentimento momentâneo e, provavelmente, você não passa um dia inteiro alegre. O acontecimento feliz surge na fresta, na fenda em sua vida, quando por um instante você esquece de tudo que não está tão bom, no desafio que parece impossível superar e um riso lindo surge nos seus lábios, uma gargalhada explode do fundo de sua alma. Aprendi que a alegria pode ser suave ou espalhafatosa, mas sempre será um sentimento revolucionário, poderoso, que nos conecta e nos humaniza. Proporcionar alegria a todes hoje é meu objetivo na vida.

4.        Aceite-se como você é. O desejo de perfeição nos persegue; na maioria das vezes, um ideal de beleza e de inteligência que talvez a maioria não possa alcançar ou não queira almejar ser quem não é. Fui uma criança, uma adolescente e hoje sou uma mulher gorda e sempre feliz, passei por crises, mas superei. A Palhaça Espoponja me ajuda a aceitar e amar “minha corpa gorda” e ver beleza nessa forma grandiosa que eu tenho.

5.        Seja a sua melhor amiga, permita-se experimentar novas sensações. A busca pelo estado de ser palhaça, na realidade é uma busca pela aceitação pessoal. potencialize suas qualidades e supere suas dificuldades, encare tudo ao seu redor como desafios e não problemas. Se cair levanta para cair melhor da próxima vez. Ao vivenciar a palhaça Espoponja aprendi a rir de mim mesma, achar graça do seu lado com incompletudes e supostos defeitos, pois todas nós estamos em um caminho de autoconhecimento e aprendizagens constantes. Se amar profundamente, você já experimentou essa imensa alegria da vida?

 O ano era 1995, eu tinha 27 anos e conheci um novo Ser em mim. A palhaça Espoponja nasceu no “Retiro para o Estudo de Clown e do Sentido Cômico", a iniciação de clowns coordenada pelos atores Carlos Simioni e Ricardo Pucetti, desenvolvida pelo Lume, o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). O Lume tem práticas de iniciação que se diferenciam das européias, quando os clowns se vêem em situações de ridículo e improviso em contato com o público. A iniciação no Lume é a condensação desse método, pesquisado durante mais de trinta anos de existência do núcleo. A metodologia contém o processo de extrair da pessoa aspectos "ridículos e estúpidos" e chegar ao clown, que de acordo com as pesquisas, não é apenas um personagem, porque é composto com elementos da própria pessoa que o faz.

Autora: Cláudia Machado  - Palhaça Espoponja - Porto Alegre/RS

Currículo: Possui Bacharelado em Artes Cênicas (UFRGS). Atualmente em Porto Alegre, pertence ao Via Expressa Coletivo Teatral grupo de investigação sobre presença cênica, com orientação do ator Carlos Simioni (LUME/UNICAMP).

Fotos: Luciano Piccoli